terça-feira, 26 de julho de 2011

I Turner PET – 1 e 2 de julho de 2011


O PET História da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA foi um dos novos grupos criados pelo Edital 2010, que teve em sua proposta temática a Preservação e Catalogação de Documentos, visando dar maior suporte à formação do aluno no que concerne às implicações deste tema, relevando ao ensino, pesquisa e extensão dentro de nossa universidade, além de fortalecer e dar maior visibilidade ao NEDHIS - Núcleo de Estudos e Documentação Histórica. E agora o primeiro semestre de atividades se encerra.

Durante todo o primeiro semestre de 2011, o nosso grupo PET planejou uma Turnê de reconhecimento de espaços de memória pelas regiões próximas à cidade de Sobral, a qual é sede da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Muitas datas e destinos foram cogitados e algumas decisões foram por demais modificadas.

Finalmente o semestre chegou ao fim e a data escolhida ficou sendo o primeiro final de semana do mês de julho, dias 1 e 2. O destino seria a Casa da Memória de Tianguá, Memorial Clóvis Beviláqua de Viçosa do Ceará, Instituto José Xavier, em Granja, e a Cidade de Camocim como espaço de memória. Tudo isso a ser visitado durante o final de semana.

Visitaremos esses lugares, privados e públicos, que de forma diversa, trabalham para a preservação da história desses lugares. Assim mesmo já nos disse o nosso Tutor Carlos Augusto em seu blog Camocim Pote de História.

O embarque deu-se bastantes cedo. Às 7 horas da manhã, de sexta-feira, o ônibus saiu da Praça Santo Antonio, na cidade de Sobral, em direção ao primeiro destino: Tianguá. Mas antes uma paradinha em um posto de gasolina para que, com um bom café da manhã, consigamos aguentar a viagem inteira...


Casa da Memória de Tianguá.

O Memorial era dividido em duas sessões, ou andares distintos. Uma era a sessão de acervo sacro e a outra de objetos de uso cotidiano de habitantes da própria cidade, dando um ar mais pessoal ao local, mesmo não recebendo muitas visitas e sendo tratado, às vezes, como depósito de quinquilharias.

Chegamos a cidade de Tianguá ainda cedo. Nem eram nove horas direito quando estacionamos frente ao prédio da Casa da Memória da cidade de Tianguá, onde uma simpática senhora nos atendeu e nos mostrou o acervo da casa. Destacando a tentativa real, por parte de nossa guia, de fazer daquele espaço um local acolhedor e amigável a todos que o visitam, mesmo não recebendo o menor incentivo por parte da prefeitura.

O primeiro piso era usado para guardar o acervo de memória da cidade. Era um local de pouco espaço, mas muito bem aproveitado. O corredor inicial tinha suas paredes cobertas de fotos e pôsteres e o chão seguia de amontoados de objetos diversos, que ia desde baús a jarros, passando por fotos, jornais e televisores.

Ao fundo havia um cômodo em que era organizada a exposição principal. Feita de muito bom grado pela Senhora que nos acompanhou como guia, que também nos servia de guia aquela manhã do dia primeiro de julho. O acervo tentava seguir uma linha cronológica evolutiva, destacando os objetos que iam dos mais antigos aos mais recentes. Televisores, rádios, telefones, datilógrafas e computadores existiam aos montes, sem descartar o belíssimo acervo numismático que havia ali. No entanto, o excesso de objetos poluía visualmente o ambiente.

O segundo piso guardava o acervo sacro da cidade. O espaço de um apartamento abrigava estátuas e fotos de diversos períodos da cidade de Tianguá, destacando nomes ilustres que fizeram parte do imaginário da cidade. Sem deixar de lado o numeroso acervo iconográfico presente ali no formato de banners dispostos ao decorrer do corredor principal, em que eram retratadas diversas ocorrências políticas e clericais.

O Memorial da Cidade de Tianguá é uma tentativa singela de resgatar a memória de uma cidade que erige uma relativa opulência dentro da serra da Ibiapaba, mas que pouco se lembra de suas raízes ou de seus filhos não tão ilustres assim, como é o caso daqueles que percorrem as ruas sem olhar os prédios ao redor...
Memorial Clóvis Beviláqua da Cidade de Viçosa do Ceará.

O Memorial Clóvis Beviláqua é um espaço impecável de organização e beleza estética por parte do prédio que o abriga. Presente em uma rua não tão visível aos turistas, o Memorial apresenta uma receptividade calorosa por parte da guia Adriana, mas que, infelizmente, não é visitado com tanta freqüência.

Ao chegarmos a Viçosa do Ceará, fomos presenteados com uma visão maravilhosa do acervo arquitetônico que a cidade dispõe. Sede de eventos como Mel, Chorinho e Cachaça e Samba e Chope, Viçosa acolhe com uma receptividade peculiar, coisa que poucas cidades da Ibiapaba possui. A opulência aqui é exibida de forma camuflada.

A paisagem arquitetônica da cidade de Viçosa vai um pouco à contramão da sua história de origem. Cidade que foi, no século XVIII, a primeira aldeia de fundação jesuíta da região, tendo como principal mão-de-obra os próprios Índios que ali viviam. Hoje exibe, em sua totalidade, uma arquitetura colonial branca, deixando a figura do índio completamente esquecida.

Clóvis Beviláqua, cidadão viçosense, jurista, legislador, jornalista e por que não dizer Historiador? Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico e ainda é autor do projeto do Código Civil brasileiro de 1899, no entanto, nada disso é lembrado pelas ruas da cidade arquitetônica...

O Memorial Clóvis Beviláqua ocupa um espaço muito bem organizado e de teor estético muito bem conservado, no entanto, ocupa um local pouco visível dentro da cidade, exigindo dos funcionários uma divulgação maior, uma extensão maior do Memorial, para que possam, assim, atrair mais visitantes e externar a proposta do local, que é a pessoa de Clóvis Beviláqua e a sua importância para a cidade de Viçosa e para o resto do Brasil.

Instituto José Xavier, Granja.

Após o almoço, em Viçosa, embarcamos novamente, mas desta vez, com destino a cidade de Granja para visitarmos o Instituto José Xavier, onde, em 2009, foi publicado Artesões de Si, a coletânea de poesias de José Lira Dutra.

O acervo foi disposto, assim como na Casa da Memória de Tianguá, sob uma lógica evolutiva e o seu espaço físico foi muito bem aproveitado na composição e disposição do acervo. A casa dispunha em seu mostruário diversas peças do período do couro, além de peças de lazer pessoal, como discos, CDs e um desnorteado Pendrive, concluindo assim o ciclo evolutivo das mídias sonoras.

O local não disponibiliza guia para nortear as visitações, fazendo com que se perca o ar característico que um local de memória se dispõe a ser, no entanto, com isso é aberto a novas interpretações. O Instituto possui uma boa gama de colaboradores e projetos de inclusão comunitária, fazendo com este um excelente uso do espaço e um contato mais próximo com a comunidade.

O local foi fundado em uma casa de pé direito alto doado pela família José Xavier e mantido pela mesma, dando ao Instituto investimento que muitas vezes, as políticas públicas, acabam negando a lugares assim, como normalmente acontecem à Casa da Memória de Tianguá e, de forma mais branda, com o Memorial Clóvis Beviláqua.

Camocim...

Chegamos já no final da tarde e, em poucas horas, seguimos para jantar e fazer uma reflexão de tudo o que vimos até então, mas ainda não havia terminado este passeio, pois agora que adentramos os primeiros muros daquela cidade, durante muitos anos considerada a principal cidade portuária do Ceará, ainda precisávamos discutir Camocim como um local de Memória, mas primeiro teríamos de ser apresentados a uma cidade pouco visitada...

O nosso Tutor PET, Carlos Augusto, falando sobre a forma como Camocim nos seria mostrada, indagou em seu blog Camocim Pote de História com as seguintes palavras: O que mostrar em nossa cidade semelhante ao que já víamos nas outras cidades? Num átimo pensei: se não temos espaços de memória circunstanciados, organizados, vou mostrar o nosso jeito espontâneo de ser.

E foi sob esta óptica de micro-culturas que Camocim se abriu a nosso grupo e porque não deixar que ele mesmo fale por nós? Ele que viveu aquele evoluir e aquele se perder da História Camocinense nos foi guia. Nossas próprias conclusões arquitetônicas e culturais foram debatidas ao final do passei em um quiosque na Ilha do Amor, como assim será dito, no entanto isso cabe a nós que estava lá... e, com você, em suas próprias palavras... Carlos Augusto...

Comecei pelo Grijalba, onde lhes apresentei o "Mudo" garçom, recebendo a cerveja do caminhão para o final de semana e nos atendendo solícito. À noite, a moçada se rendeu aos pratos do Ponto 10 do Chef Ênio. Na volta para casa, encontramos o poeta Sotero no calçadão, embalando sua filha diante do Rio da Cruz. Apresentei o nosso poeta e ele nos brindou com declamações de sua melhor poesia. No sábado, de passagem pelo Mercado, posamos e colaboramos com a caixinha do cantor excepcional que anima as manhãs daquele espaço com grunhidos e criatividade que só os excepcionais são capazes. Mostrei-lhes o que resta do passado áureo denunciador do tempo do porto e da ferrovia, e de quebra, ainda vimos o Mauro Viana, pintando em seu ateliê. Tomamos um barco e fomos à Ilha do Amor saborear a muqueca de arraia, especialidade da amiga Valdete. Na volta, encontro e conheço Nagibe Melo, (desculpa as anedotas sem graça!) parente do Mauro Viana e leitor desse blog, que me dá uma notícia maravilhosa: a volta do Boi do Juriti. Ele presenciou a apresentação na casa do Júnior Bijouterias. Almoçamos novamentee no Ênio e lá encontro o Dr. Raimundo Silva, baluarte da Academia Camocinense de Ciências, Artes e Letras. Para ele, peço notícias de Olivar e lhe informo que participei de banca de monografia sobre o "Terra e Mar" de Carlos Cardeal. Voltei revigorado e,apesar dos alunos terem atestado o descaso para com a limpeza e o zelo para com a cidade, ainda temos o que mostrar. 



P.S: Ainda fomos conferir o blogueiro Tadeu Nogueira em "atividade", mas, parece que o homem tava prás bandas do Piauí... assim já disse Carlos Augusto...

Postado por:
Francisco de Sousa,
Bolsista PET.